A República Brasileira: uma história de golpes

A República Brasileira: uma história de golpes ——

Para ser objetivo, a história da República Brasileira é marcada por golpes.

Desde o alvorecer da nossa república, alguns militares reivindicaram para si o domínio dos rumos da nação.

A República Brasileira nasceu de um golpe liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do Brasil, que foi sucedido por outro militar, o Marechal Floriano Peixoto. O período governado por ambos (1889 a 1894). entrou para a nossa história como “República da Espada”, em alusão ao item portado pelos oficiais.

Antes de passar o poder para o primeiro presidente civil, Prudente de Morais, os militares disputaram com as oligarquias rurais o caráter da nascente nação republicana. Defendiam o unitarismo, a centralização do poder político nas mãos do governo federal contra o projeto federalista ideal federalista das oligarquias, que pregava uma maior autonomia para as então províncias e atuais estados.

Apesar da vitória do projeto oligárquico que fez nascer a República Federativa do Brasil, a máxima positivista Ordem e Progresso foi eternizada na nossa bandeira e é um legado da influência dos militares nos primeiros anos da república brasileira.

Mais tarde, em 1930, lá estavam novamente os militares no golpe que derrubou o presidente Washington Luís e que levou Getúlio Vargas ao poder.

Efetuavam desse modo a tão desejada revanche contra as oligarquias do ” Café com Leite ” que há anos já vinha sendo criticada pelo Movimento Tenentista. Ainda durante a Era Vargas (1930/1945) participaram da farsa conhecida como Plano Cohen, uma (como sempre) fictícia ameaça comunista que serviu de pretexto para a implantação da ditadura varguista do Estado Novo.

Em 1946, foram os próprios militares aliados de Vargas que articularam a sua deposição, preocupados com a possibilidade do apelo popular do presidente perpetuá-lo no poder.

É tanto prazer em golpe, que a própria ditadura de Vargas chegou ao fim a partir de um golpe. E o que aconteceu depois da deposição de Vargas?

O General Dutra derrotou o Brigadeiro Eduardo Gomes e se tornou o presidente do Brasil. Sim, ambos militares.

Em 1950, o povo pediu e Vargas voltou, mas o nacionalismo de presidente em tempos de Guerra Fria levantou suspeitas dos militares alinhados ao Macarthismo, a caça às bruxas dos comunistas nos Estados Unidos.

Para piorar a situação, o Ministro do Trabalho de Vargas, ninguém menos do que João Goulart, sugeriu 100% de aumento do salário mínimo para tentar amenizar a crise econômica que castigava a classe trabalhadora. A proposta acabou provocando a fúria dos militares, dos grandes empresários e demais setores conservadores.

Apesar da polêmica, Vargas foi em frente e concedeu o aumento, levando os militares a criticarem abertamente o governo no chamado “Manifesto dos Coronéis”. Um novo golpe se desenhava no horizonte brasileiro.

Em agosto de 1954, o jornalista e político Carlos Lacerda (UDN), crítico de Vargas, sofreu um atentado que vitimou fatalmente o Major Vaz, da aeronáutica. As investigações foram conduzidas pelos militares, que chegaram à conclusão que o chefe da segurança pessoal de Vargas, Gregório Fortunato, estava envolvido. No dia 24 de agosto de 1954 os militares deram um ultimato a Vargas, que, pressionado, cometeu suicídio.

Ainda na esteira dessa crise , quase que o próximo presidente eleito não assume por conta de militares golpistas. JK só conseguiu tomar posse graças ao contragolpe liderado pelo General Henrique Teixeira Lott e seus militares legalistas..

Em 1964, novamente lá estavam presente os militares. Fuzil em uma das mãos e na outra a bandeira da moralidade para defender o Brasil de uma inexistente ameaça comunista. O motivo? A proposta de implantação das chamadas Reformas de Base, um conjunto de medidas protecionistas e de caráter popular anunciadas pelo agora presidente João Goulart (que também quase não conseguiu assumir).

Sobre o pretexto de afastar o Brasil do comunismo, setores conservadores da sociedade brasileira liderados pelos militares, implantaram uma ditadura que durou 20 anos.

Bem que podíamos dizer que tudo isso é coisa do passado, mas alguns militares fiéis ao presidente Bolsonaro e inimigos da democracia, caíram na esparrela da politização das forças armadas. Hoje , lamentavelmente estamos discutindo a possibilidade desses militares fascistas se levantarem contra o estado democrático de direito, como a que ocorreu no dia 08 de Janeiro de 2023 na capital federal.

O cenário que se desenha sombrio se deve ao fato de muitos desses militares acreditarem que as forças armadas um porrete da presidência, mas não é. A esperança é de que a maioria dos integrantes das Forças Armadas tenham o bom senso de se manterem fiéis à nossa Constituição e dizerem não aos descaminhos propostos pelo bolsonarismo. Caso contrário, diante da polarização e da mobilização que estamos assistindo, muito em breve a nossa bandeira será sim vermelha, porém do sangue dos nossos.

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