Ressignificando o professor

 

O que move um professor? O que faz com que alguém que já alcançou o grau de escolaridade mínimo exigido para desempenhar uma determinada função continue sua jornada pelos caminhos do conhecimento da sua área? O enquadramento para subida de nível e consequentemente o acréscimo salarial previsto pelos Planos de Cargos e Salários? Ou seria o desejo de aperfeiçoar-se, renovando e mantendo vivo o significado das suas atribuições?

Em 2015, uma pesquisa realizada em 21 países pela Varkey Foundation, revelou que o Brasil encontrase em penúltimo lugar quanto ao respeito e a valorização dos professores. Identificar a origem dessa desvalorização exige muito mais do que analisar a defasagem salarial da categoria e o descaso do poder público para com a importância da profissão, até porque a desvalorização salarial está presente também nos contracheques de muitas escolas particulares. Há apenas algumas décadas, pais de várias camadas sociais enchiam a boca para alardear que seus filhos se formaram professores. Era uma profissão respeitada por todos, inclusive pelos próprios professores.

Atualmente os professores estão entre os profissionais que mais padecem com depressão, problemas cardíacos e respiratórios. As salas de aulas lotadas, os baixos salários, sucateamento das instituições de ensino e a aguda crise da autoestima profissional, colocam os professores numa situação de penúria moral e financeira. No ano de 2015, o governo de São Paulo concedeu 372 licenças a professores por dia, sendo que 27% desse total por motivos de transtornos mentais. Não há saúde que resista a uma vida profissional sem significado, sem retorno financeiro ou realização profissional.

A proliferação dos cursos universitários inundou o mercado de professores de todas as áreas, aumentando a oferta e tornando o profissional do magistério uma mão de obra barata. A quintessência da realidade escolar escapa ao caráter tecnicista dos cursos e nem todos conseguem preparar os professores para enfrentar as especificidades dos segmentos escolares da Educação Básica.

A diminuição da exigência acadêmica não propicia o desenvolvimento do potencial critico e intelectual desses universitários, produzindo uma geração de docentes desinteressados pela ação reflexiva. É nesse fato que se encontra uma das explicações para o fracasso da escola enquanto centro de promoção do conhecimento. Quando intelectualmente mal preparado, o professor acaba sendo apenas um agente de contenção de aluno que recebe o planejamento decano da sua disciplina e o ministra religiosamente nas suas turmas. Embora seja a experiência em campo que “forme” o professor, dar-lhe subsídios para enfrentar os desafios do cotidiano escolar é fundamental para que sua inserção no magistério não seja apenas mais uma experiência de sobrevivência profissional desastrosa para a vida os alunos.

O discurso da valorização do professor não deve ser pautado apenas em termos salariais. O valor de um professor reside também na capacidade que ele tem de transformar o mundo à sua volta. Ao longo das últimas décadas os professores perderam paulatinamente o seu poder de influência política ao passo que atualmente ser professor não significa ser um formador de opinião.

Durante a ditadura militar no Brasil, a perseguição às ideias consideradas subversivas, desestimulou a atuação política dos professores criando um intervalo de intelectualidade crítica entre as gerações. Esse compulsório abandono da criticidade, foi decisivo para o processo de desvalorização do magistério. Essa desmobilização política reverberou por toda a sociedade, promovendo o enfraquecimento social da categoria. Desmobilizados, despolitizados, não tardou para que fossem desacreditados enquanto agentes de transformação social e desvalorizados como categoria. Hoje, os sindicatos que lutam tendo como base os professores, avançam com dificuldades obtendo tímidas conquistas em seus dissídios trabalhistas diante de governos indiferentes que, quando não desconsideram, minimizam suas reivindicações, suas paralisações e greves.

CARVALHO, Rogério. Professor: a ressignificação do fazer escolar. 1. ed. Cabo Frio: CR Publicações, 2016. 103 p.

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