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O Brasil é, sem dúvida, o paraíso das elites. Essa afirmação não é nova e pode ser comprovada pela própria história do país. Aqui, o poder econômico sempre esteve concentrado nas mãos de poucos, e o sistema parece feito sob medida para manter as coisas exatamente assim. O mais intrigante, porém, é a forma como boa parte da população, especialmente os mais pobres, não apenas aceita essa realidade, mas a reforça, seja reproduzindo o discurso das elites ou elegendo seus representantes políticos.
Isso me faz lembrar do que Antonio Gramsci chamou de “hegemonia cultural”. As elites não apenas controlam os meios de produção econômica, mas também dominam as ideias que circulam na sociedade. Através da mídia, da educação precária e até da religião, o discurso de quem está no topo da pirâmide é naturalizado, como se fosse o único possível. O resultado? Pessoas que sofrem com a desigualdade passam a acreditar que essa mesma desigualdade é inevitável ou até desejável.
Veja, por exemplo, quando alguém de origem humilde repete frases como: “Pobre é pobre porque não trabalha” ou “Se eu fosse rico também não pagaria tanto imposto”. Essas frases, que parecem inofensivas, servem para justificar a concentração de renda e reforçar o poder das elites. É como se, em vez de questionar a estrutura injusta, muitos acabassem legitimando-a.
Paulo Freire já nos alertava para isso. Em Pedagogia do Oprimido, ele explica que o oprimido muitas vezes absorve a visão do opressor, vendo o mundo pelos olhos de quem o explora. É um processo profundo, que só pode ser revertido com consciência crítica. Mas aqui no Brasil, essa consciência crítica parece ser um privilégio, não um direito.
Outro exemplo claro está nas eleições. Quem deveria estar votando por mudanças acaba, muitas vezes, elegendo políticos que perpetuam o mesmo sistema excludente. Como isso acontece? Através da desinformação, da manipulação emocional e, claro, da falta de opções reais. É a velha estratégia: manter o povo ocupado com sobrevivência e medo, enquanto quem está no poder segue intocável.
O que precisamos, enquanto sociedade, é de um esforço coletivo para romper esse ciclo. Como dizia Darcy Ribeiro, o Brasil tem um povo incrível, mas uma elite que nunca prestou. É hora de dar ouvidos às vozes que querem mudança e questionar as narrativas que nos mantêm presos a uma lógica que só beneficia os de cima. Afinal, se a maioria trabalha duro para construir o país, por que apenas uma minoria colhe os frutos?
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