Trump e o “Complexo de Vira-latas”

Como brasileiro, observo com perplexidade a celebração de muitos compatriotas pela vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. É intrigante notar que, mesmo diante de políticas que nos afetam diretamente, como as recentes deportações de brasileiros em situação irregular, ainda há quem exalte o modelo americano sem reservas. O que leva tantas pessoas a essa admiração incondicional, mesmo quando os fatos demonstram o contrário? Será o ” Complexo de vira-latas”?

 

Recentemente, o governo Trump iniciou uma grande operação de deportação, resultando na prisão de mais de 500 imigrantes ilegais e na remoção de centenas deles, incluindo brasileiros. Essas ações escancaram uma realidade dura: para muitos, o tão sonhado “American Dream” pode rapidamente se transformar em um pesadelo. A obsessão pelo “American way of life” muitas vezes ignora que as políticas de imigração dos EUA são cada vez mais rigorosas e pouco acolhedoras para quem busca oportunidades fora de seu país de origem.

 

Essa admiração cega por modelos estrangeiros não é novidade para nós. Desde o século XIX, o Brasil carrega um profundo sentimento de inferioridade em relação às potências estrangeiras, sentimento esse que foi explorado e institucionalizado. Inspirado pelo darwinismo social, uma corrente de pensamento que defendia a superioridade racial branca, o Brasil buscou o branqueamento da população por meio da imigração europeia, acreditando que essa seria a chave para o progresso do país. O Estado incentivava a vinda de imigrantes europeus com a ideia de “civilizar” a população, negando e desvalorizando as contribuições culturais e sociais dos afrodescendentes e indígenas que já faziam parte da construção nacional. Esse desejo de parecer mais com as nações europeias mostra como o complexo de vira-lata estava presente desde os primórdios da nossa história republicana.

Complexo de vira-latas

Nelson Rodrigues, ao cunhar a expressão “complexo de vira-lata”, descreveu essa constante sensação de inferioridade que nos leva a supervalorizar culturas estrangeiras em detrimento da nossa própria. E o fenômeno se repete até hoje: muitos brasileiros veem os Estados Unidos como o modelo ideal de sociedade, ignorando as profundas desigualdades e dificuldades enfrentadas por imigrantes latinos naquele país. Mesmo diante das deportações e das barreiras impostas, persistimos na ilusão de que tudo que vem de fora é melhor, enquanto menosprezamos nossa própria cultura e potencial.

 

É fundamental que reflitamos sobre essa tendência de subestimação de nossa identidade e capacidades. Valorizar o que é nosso não significa fechar os olhos para as qualidades de outras nações, mas sim reconhecer que podemos construir um país forte e independente, sem a necessidade de nos subjugarmos a modelos externos que nem sempre nos beneficiam. Afinal, se há algo que a história nos ensina, é que não há progresso sem autoestima e valorização da própria cultura.

 

A recente deportação de brasileiros pelo governo Trump serve como um alerta para que repensemos nossa admiração cega por modelos estrangeiros e passemos a valorizar mais nossa cultura, nossas potencialidades e, principalmente, nossos compatriotas. Precisamos superar o complexo de vira-lata que tanto nos acompanha e entender que o verdadeiro progresso vem de dentro para fora.

 

 

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