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A “educação integral” é comumente confundida com “educação em tempo integral”, sendo a primeira uma referência a uma formação global que promova o desenvolvimento integral das potencialidades humanas enquanto a segunda, a ampliação do tempo de permanência dos alunos na escola. Um projeto que alie uma educação integral a uma educação em tempo integral é o mais próximo que se pode chegar da proposta de ressignificação do espaço escolar aqui defendida. No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro chegou bem perto dessa proposta com o advento dos CIEPs.
Os Centros Integrados de Educação Pública foram idealizados pelo Professor Darcy Ribeiro, inspirados pela experiência da Escola Parque de Anísio Teixeira7 e implantados durante as gestões do governador de Leonel Brizola no Estado do Rio de Janeiro. Eram unidades nasquais os alunos permaneciam oito horas por dia, recebiam três refeições diárias e também atendimento médico e odontológico periódico. Além das aulas regulares, as crianças contavam com aulas de reforço, videoteca e animação cultural. Recreadores desenvolviam atividades físicas e esportivas alternadamente durante o dia letivo. Os CIEPs também contavam com uma residência para alunos que não possuíam um lar estruturado. Essas crianças ficavam sob a responsabilidade dos chamados pais sociais; casais que residiam nas dependências dos CIEPs com essa finalidade. à assistência à saúde, atividades esportivas e artísticas. Como fim do Governo Collor, os CIACs foram reformulados e passaram a se chamar CAICS (Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente) sendo normatizados pela Lei Federal nº 8.642, de 31 de Março de 1993.
As críticas
Tanto os CIEPs, quanto os CIACs foram duramente criticados. Os adversários políticos de Leonel Brizola, por exemplo, consideravam os CIEPs uma ferramenta assistencialista do seu governo. É verdade que o custo dessas unidades era muito superior ao de uma escola da rede regular, considerando o mesmo número de alunos. Contudo, se tratava de uma tentativa de revolucionar a escola brasileira com uma proposta diferenciada e cheia de especificidades. Uma experiência significativa na história da educação, que não perdurou pelo seu significado político e pelo já cultural papel secundário que a educação ocupa na ordem da hierarquia das prioridades do investimento publico.
A minha experiência
A partir de 1994 tive a oportunidade de viver a experiência do
CIEP. Tudo na unidade remetia a uma proposta educacional que propiciasse o desenvolvimento de todas as potencialidades dos alunos.
Pela manhã alunos recebiam um café da manhã equilibrado
(leite ou iogurte, pão com mortadela ou queijo, frutas etc.). Era a primeira das três refeições que recebiam. Após o café, algumas turmas subiam para as salas de aula enquanto outras se dirigiam para a quadra para a recreação. Após a atividade física, os alunos tomavam banho nos vestiários onde possuíam um escaninho com toalha e sache de shampoo. Em seguida iam para sala de aula, enquanto outras turmas desciam para a atividade. Contavam também com atendimento médico e odontológico, além de uma família (pais sociais) para abrigar os que não possuíam um lar estruturado.
No turno da tarde havia aula de reforço para os alunos com difi culdades, sala de vídeo e atividades com os animadores culturais. No fim do dia, os alunos recebiam mais um lanche, prova velmente o último até o dia seguinte, quando novamente estariam na escola. Por sua essência, os CIEPs não foram apenas escolas com jornada estendida, mas sim uma experiência educacional onde estava em curso uma educação verdadeiramente integral.
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