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A Revolução Industrial, iniciada no final do século XVIII, foi um marco na história da humanidade. Porém, ao mesmo tempo que trouxe avanços tecnológicos e crescimento econômico, também acentuou as desigualdades sociais. Sob a ótica marxista, essas transformações evidenciaram o surgimento de uma sociedade baseada na exploração do proletariado pela burguesia. Como entender esse processo e suas implicações?
Karl Marx, em sua análise do capitalismo industrial, observou que o sistema de produção das fábricas gerou uma divisão clara entre duas classes sociais principais: a burguesia, composta pelos donos dos meios de produção, e o proletariado, formado pelos trabalhadores assalariados. Para Marx, essa relação não era equilibrada, mas profundamente exploratória. A burguesia acumulava riquezas ao se apropriar do “mais-valor” produzido pelos trabalhadores, enquanto o proletariado recebia apenas uma fração mínima de seu trabalho, suficiente para sobreviver e continuar produzindo.
Na lógica industrial capitalista, o trabalhador não possuía os meios de produção (máquinas, fábricas, terras) e, portanto, precisava vender sua força de trabalho em troca de um salário. Essa situação criou o que Marx chamou de “alienação”. Os operários se tornaram desconectados dos frutos de seu trabalho, das ferramentas que usavam e até mesmo de si mesmos. A repetição exaustiva e a ausência de controle sobre o produto final geravam uma sensação de desumanização. Como manter a dignidade em um sistema que trata o trabalhador como apenas mais uma peça da engrenagem?
Além da alienação, a Revolução Industrial aprofundou as desigualdades econômicas. Enquanto a burguesia desfrutava de luxos antes inimagináveis, o proletariado enfrentava jornadas de trabalho extenuantes, condições insalubres e baixos salários. Mulheres e crianças eram frequentemente exploradas, recebendo ainda menos que os homens por tarefas igualmente árduas. Essa disparidade deu origem ao conceito de “luta de classes”, central no pensamento marxista. Para Marx, a história humana é impulsionada pelo conflito entre classes dominantes e dominadas, e a Revolução Industrial exemplificou isso de maneira contundente.
Do ponto de vista marxista, o capitalismo industrial também intensificou a “contradição capitalista”: a busca incessante por lucro levava à exploração dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, restringia seu poder de consumo. Isso criava crises econômicas recorrentes, marcadas por superprodução e subconsumo. Como pode um sistema prosperar enquanto prejudica a maioria que o sustenta?
As ideias de Marx e Friedrich Engels, especialmente em obras como “O Manifesto Comunista”, inspiraram movimentos operários ao redor do mundo. Greves, sindicatos e partidos socialistas surgiram como respostas à exploração capitalista. Esses movimentos buscavam não apenas melhores condições de trabalho, mas também uma reestruturação completa da sociedade, em direção ao que Marx chamou de comunismo: um sistema sem classes, onde os meios de produção seriam coletivos e as riquezas distribuídas de forma equitativa.
Embora muitas das previsões de Marx sobre o colapso do capitalismo não tenham se concretizado da maneira esperada, sua análise da Revolução Industrial continua relevante. Os debates sobre desigualdade, concentração de riquezas e precarização do trabalho permanecem vivos, especialmente em um mundo onde novas tecnologias muitas vezes reproduzem as mesmas dinâmicas exploratórias.
A Revolução Industrial, sob a ótica marxista, não foi apenas um período de progresso técnico, mas também de intensificação das desigualdades. Suas lições nos convidam a refletir sobre como equilibrar inovação com justiça social e como garantir que o avanço econômico beneficie a todos, e não apenas uma elite. Afinal, como construir uma sociedade mais justa sem questionar as bases de sua organização econômica?
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